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Pantanal

Rodovia para escoamento de grãos é considerada ameaça ao Pantanal

A conclusão da rodovia Transpantaneira, projeto concebido no Pantanal durante a ditadura militar no Brasil, preocupa ambientalistas e segmento turístico nos dois lados da planície alagável. A proposta, que prevê pavimentar aproximadamente 450 quilômetros de estrada para ligar os extremos norte e sul do bioma, voltou a ser discutida com mais intensidade.

Os entusiastas da ideia de rasgar o Pantanal em asfalto defendem a federalização da Transpantaneira. Oficialmente MT-060, a rodovia estadual vai do norte do Pantanal até as margens do Rio São Lourenço, em Porto Jofre, dentro do município de Poconé (MT).

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A estrada em leito natural, ou seja, sem pavimentação, para na divisa com Mato Grosso do Sul. No Estado, o traçado da via não saiu do papel.

Projeto de lei apresentado em dezembro passado, pelo deputado federal Emanuel Pinheiro Neto (PTB-MT), fala em terminar a Transpantaneira até encontrar a BR-262, em Ladário. O parlamentar justifica que a estrada seria uma alternativa de ligação entre os estados das regiões Sul e Sudeste do País com Mato Grosso, Rondônia, Acre e sul do Pará.

“Emanuelzinho”, como é conhecido o deputado, diz que o novo segmento possibilitaria também o escoamento da produção de grãos e recebimento de insumos, além da integração com os modais hidroviário e ferroviário.

O uso da estrada como rota para o agronegócio é questionado por entidades com atuação na defesa do Pantanal, como o IHP (Instituto Homem Pantaneiro), representado pelo diretor de relações institucionais, Angelo Rabelo.

“É um grande equívoco achar que a Transpantaneira possa servir para escoar grão. Ela só faria sentido se conseguisse atender as fazendas no escoamento da produção de gado, e ainda assim protegendo comitivas, usando caminhões com limitações. Uma intenção dessas coloca em risco um bioma frágil e que não suporta esse tipo de pressão”, aponta.

As características da rodovia, de declividade acentuada e solo arenoso, pedem investimentos altos, acredita Rabelo.

“Vai ter que fazer muito aterro. Isso demonstra que seria impraticável financeiramente. É um alto custo pensar em elevar o grip, asfaltar, seja o que for. Não há justificativa plausível, além do aspecto ambiental, a viabilidade econômica também será contestada”, pontua.

Risco ao turismo

A ONG (Organização Não-Governamental) SOS Pantanal se apoia na Transpantaneira como atrativo turístico para rebater a proposta de pavimentação. A entidade emitiu comunicado pouco depois da apresentação do projeto do deputado mato-grossense.

“A Transpantaneira foi concebida e traçada por sua grande beleza cênica. A estrada se destina à recreação e ao lazer, além de promover a integração homem-natureza e o desenvolvimento sustentável da região. Transformá-la em uma rodovia de escoamento de produção é inconcebível”, classificou, em nota, o diretor-executivo da ONG, Felipe Dias.

Ainda, a organização alertou que a Transpantaneira hoje funciona como uma estrada parque e atua como Unidade de Conservação para uso sustentável.

“Ao asfaltá-la, a tendência é que haja um aumento no volume de carros e caminhões, expandindo o tráfego na região. Com essa ampliação, deve crescer também a taxa de animais silvestres atropelados, o que prejudica fortemente a biodiversidade de fauna local. Além de agravar os níveis de poluição”, apontou a SOS Pantanal.

A conexão do lado norte com o extremo sul do bioma demanda a construção de uma ponte sobre o Rio São Lourenço, além de obras até Corumbá e Ladário. Para a ONG, as intervenções significam “degradação de boa parte de Mato Grosso do Sul, prejudicando a fauna e flora regional”.

Parcela do setor turístico também contesta a transformação da Transpantaneira em rodovia federal para escoamento da produção agrícola. Ailton Lara, proprietário do Pantanal Jaguar Camp, que explora a observação da onça pintada na região de Porto Jofre, endossou comunicado da SOS Pantanal.

“Faremos de tudo para que isso não aconteça, pois seria um prejuízo enorme para a biodiversidade do Pantanal. Nós, do ramo turístico, somos totalmente contra e estamos nos mobilizando para impedir o ato. A obra acaba comprometendo os trabalhos de conservação”, destacou.

As manifestações contrárias surtiram efeito e Emanuel Pinheiro Neto pediu arquivamento do projeto, no mês passado, quando a matéria seguia para a Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.

Em entrevista ao site mato-grossense Mídia Hoje, o parlamentar recuou da ideia e admitiu não ser “positivo” falar em federalização da Transpantaneira.

Porém, a proposta ainda não dá sinais de dissolução em Mato Grosso do Sul. O deputado estadual Evander Vendramini (PP), de base corumbaense, pediu estudos de viabilidade técnico-financeira para federalizar a rodovia ao Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), governo do Estado e bancada sul-mato-grossense em Brasília (DF).

O movimento foi provocado pelo vereador por Corumbá, Manoel Rodrigues (Republicanos), que participou de audiência pública na Câmara Municipal de Poconé, no ano passado, para discutir a incorporação da estrada ao sistema rodoviário federal.

Há nove anos, Vander Loubet (PT-MS) relatou projeto similar apresentado pelo então deputado e hoje senador, Wellington Fagundes (PL-MT). Na Comissão de Viação e Transportes, o petista assentiu pela aprovação do texto, que acabou arquivado ao fim do mandato do mato-grossense.

 

Fonte: Campo Grande News

Foto: Divulgação/Tiago Lima Photo

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