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Tráfego de cargas cai com a COVID-19 e caminhoneiros sofrem

Tráfego de cargas cai com a COVID-19 e caminhoneiros sofrem

As vias por onde passam a produção agrícola do interior e as remessas industriais dos grandes centros se esvaziaram. Comércios fechados e estoques altos fazem caminhoneiros parar. Os que se arriscam passam até uma semana esperando por fretes. Enfrentam rodovias sem postos, mecânicas, restaurantes ou borracharias, uma vez que só o trânsito de bens essenciais não mantém a viabilidade desses negócios de beira de estrada.

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Um terço das cargas normalmente escoadas pelas principais rodovias que cortam Minas deixou de ser transportada desde o início das medidas de quarentena contra a disseminação da COVID-19. É o que mostram apurações nas rodovias e os dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas. De acordo com o levantamento, “a movimentação diária média de cargas caiu substancialmente, em 32%” desde o isolamento, em medição de 23 de março a 10 de abril.

O levantamento inclui as rodovias concedidas BR-262 (BH-Triângulo), BR-040 (BH-Brasília) e BR-040 (BH-Rio de Janeiro e Rio de Janeiro-BH), mas não computou a mais movimentada, a BR-381 (BH-São Paulo), pois o posto foi fechado justamente devido à COVID-19.

O movimento médio total de veículos pesados, como caminhões e ônibus, caiu de 35.933,50 para 16.853,75 (-46,9%) em março, levando-se em conta dados de antes dos isolamentos sistemáticos, até o dia 19, e após o início dessas políticas, do dia 20 em diante. O movimento diário médio, que era de 1.904,50 veículos pesados, caiu para 1.404,75 (-26,25%) no total.

Prejuízo 

Nas rodovias BR-262 e BR-381, a reportagem do EM ouviu dos caminhoneiros descrições de muitas dificuldades. O carreteiro paranaense Edson Vieira, de 24 anos, transporta laticínios de Ponta Grossa (PR) para a Grande BH e tem sentido uma redução contínua da oferta de serviços e também da disponibilidade de cargas. “Puxamos leite, iogurte. É coisa que deveria sair todos os dias, você precisa comprar para o seu filho comer. Agora, estamos em quatro ou cinco caminhões e só liberam uma carga por dia. Assim, acaba que um fica para trás, esperando outra carga ser liberada.

Estou esperando desde segunda-feira (quatro dias) e só deve ser liberada para mim uma carga hoje (quinta-feira), mas até que carregue e possa levar, talvez só saia amanhã (sexta-feira). Já fiquei uma semana em Igaratinga, depois de Pará de Minas (Centro-Oeste de Minas), esperando cargas que não foram liberadas”, reclama.

A dificuldade de encontrar restaurantes, bares e lanchonetes, obriga os viajantes a levar a própria comida, mas muitas vezes os compartimentos onde carregam seus alimentos, as chamadas caixas de boia, não podem ser abertas dentro dos locais de carregamento. “Muitas empresas não deixam abrir a caixa de boia. Então, pela segurança da carga, você acaba tendo de pousar no interior da empresa. No outro dia cedo, você tem de tomar um café, mas geralmente não tem um lugar perto da empresa. Demoram para descarregar, você encosta na doca e ficam enrolando, às vezes é problema da estocagem e quem sofre é o motorista”, desabafa Vieira.

Na BR-262, em Juatuba, um dos pontos de parada tradicionais para caminhoneiros de todo o Brasil, que até pernoitam em seus veículos, a lanchonete e posto de abastecimento Juá atravessa dificuldades. O estabelecimento fechou sua parte interna à entrada de clientes e só entrega as refeições, refrescos, salgados e petiscos pelas janelas. Todos os funcionários utilizam máscaras e há álcool em gel em abundância, mas a freguesia já não é mais a mesma. De acordo com o subgerente do estabelecimento, Edimar Rosa Gomes, não será possível manter os empregos dos 60 funcionários que atualmente trabalham na empresa.

“Perdemos 70% do nosso movimento. Não dá para manter o quadro de funcionários numa situação dessas. Há 30 dias começamos a atender as pessoas só do lado de fora. Muitos reclamaram. Queriam usar os banheiros de dentro. Aí quebramos a parede externa e abrimos um acesso. Estamos tentando de tudo, mas a situação está desesperadora”, lamenta. No posto de abastecimento e serviços, o fato de ser um dos poucos que ainda está aberto acabou por aglutinar os caminhoneiros e viajantes que ainda encontram ânimo para circular. “No posto, o movimento ainda está menos fraco. Tem dias bons, dias ruins. Vamos ver até onde conseguimos seguir abertos. Temos de ter esperança, mas está difícil essa situação”, afirma.

Sem serviços no deserto rodoviário

Os 700 quilômetros de estradas entre Belo Horizonte e Araporã, município do Triângulo Mineiro na divisa com Goiás, se tornaram uma aventura incerta. Devido aos efeitos do isolamento e dos fechamentos de comércios, viajantes praticamente não encontram infraestrutura de apoio ao longo das rodovias, deixando sua segurança muitas vezes na mão da sorte.

Na semana passada, a carreta bitrem carregada de etanol conduzida pelo caminhoneiro Davison dos Santos, de 36 anos, teve um dos seus pneus esvaziado e precisava de reparos para seguir viagem. “Como não encontrava nada aberto, precisei rodar 120 quilômetros até achar um borracheiro em Nova Serrana (Centro-Oeste de Minas). E ele já tinha fechado, precisamos tirar o cara de dentro de casa para conseguir o reparo para seguir viagem. A insegurança tem sido total. Desse jeito não está valendo a pena rodar. Melhor ficar em casa”, desabafa o condutor de BH.

As rodovias desertas dentro do território mineiro ampliaram os desafios já consideráveis dos caminhoneiros que transportam mercadorias e abastecem o estado. Com as medidas de afastamento social por causa da disseminação do novo coronavírus (Sars-Cov-2), quanto mais distante dos centros urbanos, menos serviços abertos nas beiras de estradas. Segundo caminhoneiros encontrados pelas BRs 262 e 381 pela reportagem do EM, isso ocorre porque, nesses locais, os comerciantes ainda podem contar com o movimento urbano e não apenas com o da rodovia.

“A gente se preocupa com as coisas que podem acontecer. Mangueiras estragam, pneu pode furar. Sempre tem alguma coisa para fazer. O caminhão é uma máquina. A gente sempre tem uma coisa ou outra para quebrar o galho, mas não pode contar com isso. Precisamos de mecânica, de borracharia e de ter a segurança de que vão estar funcionando”, disse o carreteiro Carlos Aparecido Pinheiro, de 50, de Ponta Grossa (PR). Ele descarregou na quarta-feira sua carga de iogurtes em Sabará, na Grande BH, e aguardava por um novo frete para o retorno.

Mais caro 

Mesmo onde ainda há serviços sendo oferecidos, como a entrega de marmitas pelas janelas, os preços chegam a ser exorbitantes. “Em vez de nos ajudar, muitos comerciantes estão querendo lucrar explorando os caminhoneiros. Onde já se viu? Tem lugar que você compra dois marmitex e dois refrigerantes por R$ 50. Assim não compensa mesmo rodar. Quase não tem carga. Os custos aumentaram e a incerteza também”, reclama o caminhoneiro Marcos de Castro Zandora, de 40, que transportava etanol de Belo Horizonte para Frutal, no Triângulo.

Ao longo das rodovias BR-381 e BR-262, a reportagem encontrou também restaurantes onde não havia exigência de máscaras, controle de lotação e espaçamento entre clientes para reduzir as chances de contágio da COVID-19. Em contraste, na pequena barraquinha de madeira e lona do senhor Antônio Márcio Santiago, de 67, o álcool em gel é ofertado a todos que param, um alento no trecho de Mateus Leme da BR-262.

“A gente chegou a parar. Mas temos família, filhos para criar. Foi só reabrir que os caminhoneiros voltaram. Está uma bagunça para eles na rodovia afora. Por isso, como sabem que estamos abertos, vêm aqui comprar os produtos da roça, comer mingau de milho verde, frango caipira”, conta.

 

Fonte: Estado de Minas

Foto: Divulgação/ Edésio Ferreira/EM/D.A Press

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